quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Abertura dos 80 anos de presença das Irmãs ESCOLÁPIAS no Brasil - OLIVEIRA / MG


Uma FESTA inacabada


Santa Luzia, dezenove de Setembro de dois mil e treze, precisamente às cinco e pouco da manhã e  como tantas manhãs de início de primavera, fazia um friozinho bom. As luzes do Centro Cultural Calasanz estavam acesas, queimando eletricidade a todo vapor, varando o dia, porém mais acesa estava a esperança de um grupo de pouco mais de quarenta entusiastas, prontos a desfilar sua alegria pelas ruas de Oliveira, prontos a encantar com o circo a quem pudesse interessar, prontos a desafiar as leis do corpo humano com os malabares, piruetas, mortais, dentre outros. Um parágrafo para a noite anterior.
Chegara na noite anterior o caminhão que transportaria as “tralhas” -apelido carinhosamente dado aos materiais circenses- que já davam pistas do que iria  ser quando chegasse ao destino: Nossa Senhora de Oliveira. Do início ao fim funcionou a pedagogia do efeito formiguinha. É fantástico ver como adultos e adolescentes se engajam numa mesma causa, mesmo que seja para carregar um simples caminhão. Cada um leva alguma coisa, misturado com a expectativa de mais uma vez fazer o expectador vibrar. Em menos de meia hora o caminhão estava lotado, a ponto de deixar ‘ver’ tamanha expectativa embarcada. Circo, cores, fantasias, escada, cordas, lona, colchões, lira, tecido... tudo estava a espera da tão sonhada hora: o espetáculo.
De volta ao dia depois do caminhão, de madrugada, mais uma vez se fez transparecer a pedagogia da formiguinha e dos sonhos, expectativas, etc. Foi pedido anteriormente, expressamente, literalmente, que os viajantes levassem apenas aquilo que realmente fossem usar, evitar o supérfluo, desnecessário, que somente iria fazer peso às malas. E foi esquecido de avisar sobre levar ou não muita expectativa. Tinha mala para tudo quanto fosse canto, umas mais cheias, outras menos, alguns levaram duas, mas o contagiante foi que todos levaram algo mais que as roupas dentro das malas: muita EXPECTATIVA, além do supérfluo.
Aos ‘marinheiros de primeira viagem’ coube observar, ficar mudo de vez em quando, entrar na mesma onda, ficar mais retraído, mas de nenhuma forma, ninguém levou pouca expectativa. Também o feito era nobre e a causa, bem, a causa é um capítulo à parte: não é todo dia que se comemoram 80 anos de presença Escolápia no Brasil, não é todo dia que se comemoram 80 anos de trabalho dedicados à educação, à fé. Não é todo dia que se revive o gostinho do nascimento de uma CAUSA maior, que é a entrega da vida -sim, essa que tanto prezamos- em favor dos menos favorecidos. Seguramente São José de Calasanz e Santa Paula Montal louvaram à Deus por suas obras estarem tão bem representadas por pessoas tão dedicadas e apaixonadas pelo que fazem.
Ter o privilégio de comemorar a chegada dessas guerreiras mulheres oriundas da Europa, que aos poucos se misturaram à cidade de Oliveira, que foram incorporando a história da cidade à de suas vidas e no fundo, de suas expectativas, não é para qualquer um. Há de se merecer estar num lugar como esse, há de se emocionar estar abrigado juntamente com as Escolápias à história delas, à vida delas, à vocação delas, à pedagogia delas, em fim, à causa delas, que no fundo não é só delas, é de todos os que se fazem presente com elas. Talvez no fundo seja esse o mistério do carisma escolápio: fazer da causa de suas vidas uma obra de serviço e entrega aos demais.
Pois bem, ao passo que Oliveira ficava mais perto, mais acelerados ficavam os corações dentro do ônibus, que desconheceu o silêncio de ponta a ponta. Algazarra? Não, apenas um acalantado momento de instabilidade silenciosa. Nada mais que isso. Foram músicas, cantadas por vezes com insuficiência literária, poética, com perdão do trocadilho. 
A chegada foi tranquila, fomos muitíssimo bem recepcionados pelas Irmãs Escolápias locais, que nos acolheram sem medir esforços, sem se importarem com a mudança radical de sua rotina do dia a dia. E olha que o que se viu foi gente pra tudo quanto era lado. Aquele silêncio daquela grandiosa casa foi quebrado impiedosamente. Por outro lado, era o carisma calasâncio que pedia passagem para entrar, se hospedar ali uns dias e revigorar; recarregar as baterias das Irmãs com o ímpeto da peraltice. Provavelmente Ir Mônica, Ir Diva, Ir Imaculada, Ir Ana e Ir Antonia perceberam e reviveram os bons tempos dos tempos de colégio naquela casa onde muito se aprendeu Letras e Piedade. Mas aquele velho prédio, que seguramente guarda em suas paredes e memórias fatos e feitos grandiosos, viu, mais uma vez, pegadas do Santo padre e de sua fiel Seguidora caminhando pelos corredores e escadas uma vez mais.
E como foi bom ter aquela casa cheia de vida, de vigor, de alegria, entusiasmo, e de novo  -expectativa-. A recepção não podia ter sido melhor. De cara não foi preciso se preocupar com nada, visto que as Irmãs muito solícitas estavam de prontidão para qualquer necessidade coletiva. Tudo muito bem organizado, preparado com esmero.
Diante de tudo isso, cumpre desvendar o motivo do inacabado, na epígrafe deste registro. Simplesmente porque não foi o primeiro e nem será o último momento celebrativo da chegada dessas aventureiras e bem aventuradas mulheres que se dispuseram e dispõem a cada dia de suas vidas e de seu labor em prol dos pequenos, sem o pão da educação e do amor a Deus. Se Piedade e Letras dão tão bons frutos hoje, num mundo desigual, que o diria Calasanz em 1600. E hoje as letras e a piedade ainda continuam fazendo a diferença na vida desses pequenos, que como bem dizia o Mestre, se forem educadas desde a mais terna infância, grandes são as chances de serem alguém na vida. Ao que parece, as Escolápias estão seguindo essa cartilha, ensinando a fé e as letras, juntamente com o esporte e a cultura em geral, especialmente a arte circense, que foi o capítulo à parte dessa grandiosa comemoração.
Pouco? Não. Hoje tem espetáculo? Tem sim senhor! Tem o espetáculo da vida que insiste em desabrochar! Tem o espetáculo da entrega a um carisma transformador, talhado por Calasanz e Santa Paula, que dá frutos continuamente! Tem espetáculo? Tem sim senhor! Tem a vida dessa gente que nos mostra a cada dia que as adversidades estão aí para serem superadas, que a pobreza espiritual é só uma questão de dedicação, que a falta de educação de qualidade é só uma questão de um espaço com uma mesa e uma cadeira e um bocado de boa vontade. Tem espetáculo? Tem sim senhor! Tem o milagre da transformação da água em vinho, dos braços e pernas enrugados, sem coordenação em engrenagens de um momento de comunicação da arte circense que se fez presente em nosso meio com o singelo homônimo de “Espetáculo Soul Circo”. Tem espetáculo? Tem sim senhor! Tem a vida que teima em brotar, desabrochar, desenvolver. E no fundo de tudo isso, tem um grito silencioso que teima, graciosamente em se fazer ouvir: é Calasanz e Paula Montal nos pedindo para não parar, para aguentarmos firmes, como eles, as adversidades e pressões do quotidiano. Parece que eles também estão vibrando a cada passo, a cada salto, a cada mortal, a cada malabares, a cada tango, a cada lira, a cada pirueta, a cada suspiro.... vale a pena ser ESCOLÁPIO! Não iremos parar nunca! Está tudo inacabado! Estamos só começando! 80 não são nada! É só o engatinhar!


Ir. Sandra Lúcia Ferreira, Sch. P.
Ir. Sueli Maria de Fátima Resende, Sch. P.
Claudinei (colaborador escolápio)